Os efeitos colaterais do tráfico em Angra dos Reis

Imóveis perdem valor na cidade da Costa Verde, e preços chegam a cair 32%, de acordo com o Sindicato da Habitação. Números de crimes ligados à disputa por pontos de venda de drogas aumentam, o que também afeta o turismo.

 

RIO — A guerra do tráfico de drogas em Angra dos Reis, na Costa Verde, desencadeou uma onda de violência que já tem impacto no mercado imobiliário do balneário. Levantamento feito pelo Sindicato da Habitação (Secovi-Rio), a pedido do GLOBO, revela que o valor das casas de rua no município caiu 32% este ano, em comparação com 2016. O preço do metro quadrado passou de R$7.723 para R$ 5.251. As casas de condomínio também sofreram as consequências do crescimento da sensação de insegurança. O valor do metro quadrado diminuiu de R$ 7.689 para R$ 6.585, uma queda de 14,4%.

— A procura caiu muito. A crise econômica do estado, por si só, já havia impactado (o mercado imobiliário), e a violência veio como um xeque-mate. As pessoas não se sentem mais seguras de passar pela Rio-Santos — analisa Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi.

Na última sexta-feira, um protesto de moradores da comunidade da Lambicada fechou a rodovia. Eles levaram um cadáver para a pista e reclamaram de uma ação da Polícia Militar na favela.

Com o impacto no setor imobiliário da região, segundo Schneider, muitas casas vêm sendo colocadas à venda. A dificuldade de fechar negócio, no entanto, tem feito com que proprietários acabem sendo bem flexíveis, reduzindo bastante os preços.

— Sabemos de casas que os proprietários tentam vender há anos, mas não conseguem. Então, um imóvel de R$ 5 milhões acaba sendo negociado a R$ 2,5 milhões. Às vezes, o dono aluga por temporada para, pelo menos, pagar os custos do imóvel — explica.

Os efeitos no turismo também são claros. De acordo com o presidente da Fundação de Turismo de Angra dos Reis, João Willy Seixas Peixoto, quando há algum episódio de explosão da violência,como guerras entre quadrilhas, a taxa de cancelamento das reservas de turistas varia de 20 a 25%.

— Nosso verão foi muito tranquilo, dezembro e janeiro foram meses calmos. Mas sentimos as consequências desses últimos episódios. Essa explosão de violência, que se dá quando há confrontos entre facções, passa uma imagem muito ruim da cidade. As pessoas ficam com medo e cancelam a vinda — afirma.

O aumento da presença do crime organizado em Angra fica claro com a análise dos números de prisões e as apreensões de adolescentes por crimes de tráfico e associação para o tráfico na cidade. Em 2008, 43 pessoas foram capturadas por esses delitos, contra 601 em todo o ano passado. O número de 2018 é 14 vezes maior que o registrado há dez anos.

 

FONTE: Jornal O Globo

 

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