Cresce o uso de drones na construção de imóveis

Inicialmente desenvolvido para ser usado pelo exército e ir a lugares perigosos onde ninguém deveria entrar, os drones — também chamados de veículo aéreo não tripulado (VANT) — se tornaram populares até para objetivos menos tensos do que reconhecer o território inimigo, como filmar festas e captar imagens para campanhas publicitárias. O alcance, a precisão e agilidade na coleta de informações chamou a atenção também da construção civil, que está começando a usar cada vez mais a tecnologia nos projetos.

Mapear um terreno que levaria dias em horas, poder mostrar ao comprador qual a vista que ele terá quando o edifício, ainda na planta, for erguido e resolver problemas como uma rachadura do telhado, com alta precisão e sem pôr funcionários em risco são alguns dos atrativos.

— O drone na construção pode ajudar na terraplanagem, na vistoria e inspeção da estrutura. Também ajuda na fase do projeto, pois com ele é possível fazer o mapemamento e obter dados para fazer um arquivo em 3D e trabalhar no AutoCAD depois — explica o engenheiro Cezar Augusto Fragozo, do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Rio (Ibape-RJ).

Segundo o ele, o uso do aparelho está crescendo no Rio, mas ainda é discreto, até mesmo pelo desaquecimento do setor. Em outros estados, é mais freqüente. Ele destaca, ainda, a segurança, tanto a que o aparelho oferece, quanto a de quem usa deve estar atento.

— Hoje, situações de risco que eram feitas por funcionários podem ser feitas por drones sem pôr vidas em risco. Mas é importante aprender a usar e conhecer as regras de uso — pontua.

Segundo ele, para cada voo, deve-se pedir autorização ao órgãos competentes e dar informações como altura e dia. Em média, é permitido até 120 metros de altura, o equivalente a 40 andares. No site do Departamento de Controle do Espaço Áereo (Decea), decea.gov.br/drone/ , há mais informações sobre a o processo para concessão.

Na Mozak, os drones são usados há cerca de três anos para ajudar na venda das unidades e para acompanhar as obras. Segundo a gerente comercial, Carolina Lindner, na primeira fase, quando ainda nada foi construído, o aparelho funciona como um apoio às imagens do fotógrafo, para mostrar ao cliente a vista que ele terá do imóvel. Depois, acompanha a evolução da obra e, mensalmente, estas imagens são enviadas aos compradores.

— Os clientes gostam porque tem uma visão mais real do que se fosse uma foto, por exemplo. Ele consegue ter proporções mais exatas de todo o andamento.

Já na Jeronimo da Veiga, o drone é usado para facilitar o andamento da obra em si. O diretor comercial Maurício Corrêa explica que o equipamento é usado para ajudar no mapeamento de terrenos novos e para acessar detalhes na construção que demandaria de muito mais tempo e trabalho.

Uma outra finalidade é para ver a vista que o empreendimento terá — e que é um dos valores agregados mais relevantes no custo de uma unidade. Em um dos empreendimentos recentes, Corrêa conta que mudaram de 12 pavimentos para sete e mais blocos, pois o andar muito alto daria bem em frente à uma uma comunidade.

– O drone me dá uma visão de algo que não veria sem ele, por exemplo, a vista do 23º andar, que é importante para saber o gabarito e o entorno. Num caso real, vimos uma rachadura no telhado e ele mostrou em três minutos o que o profissional levaria duas horas para ver.

Segundo ele, o drone usado hoje na construção civil ainda é uma ferramenta de apoio que otimiza tempo e precisão tecnológica, mas ainda não consegue fazer tudo sozinho.

— A atual tecnologia atual não substituiu a relação topográfica e do engenheiro in loco . O drone só dá olhos aonde não conseguimos ir.

A CAC Engenharia também aderiu a os olhos de lince high tech em suas obras há cerca de um ano, para prospectar novos terrenos e realizar estudos prévios de topografia. Segundo o diretor comercial Dilson Silva Junior, a possibilidade de um tour virtual por cima do empreendimento melhorou a visão dos clientes e o entendimento sobre como ficará o empreendimento.

— É uma excelente ferramenta, pois agiliza as etapas e permite que os clientes acompanhem mensalmente a execução e o andamento da obra, além de ser uma usado na divulgação para novos compradores — explica.

Segundo eles, outro recurso favorável do veículo aéreo é conseguir ver áreas irregulares, com floresta, rios e montanhas no entorno. Foi o que aconteceu com o empreendimento em Itaipava, da RioOito.

Clara Navarro, gerente de marketing da empresa, explica que a agilidade e alcance do drone foi fundamental neste caso, pois trata-se de uma área com muito verde.

— Em uma obra executada por fase, como é o caso do Cenário da Montanha, de 288 mil metros e que tem 672 apartamentos, construídos em quatro fases, o drone é fundamental para o cliente acompanhar a evolução da obra.

Além de usar para mostrar a evolução da obra, segundo ela, o aparelho capta as imagens gerais, mostrando as fases da obra até a conclusão da construção.

— Para que o cliente tenha acesso à obra, ele precisa cumprir requisitos de segurança . E com o drone, essa visita física ao local é dispensável porque ele tem a chance de acompanhar online a construção.

Tecnologia do futuro para construir imóveis – A tecnologia na construção, assim como em diversos setores, só tende a crescer. Segundo o presidente do Centro de Tencologias de Edificações (CTE), uma empresa de consultoria para o gerenciamento de obras, Roberto de Souza, o drone ainda é pouco usado na construção civil por ser um setor conservador. Além disso, a crise inibiu todos os processo em geral.

— Hoje, captar imagens através de um drone tem um foco mais na área comercial. Contudo, começa a ser cada vez mais usado para levantar dados do terreno, acompanhar obras e inspecionar o que já está pronto — afirma.

Um dos exemplos, de acordo com ele, é que para realizar uma topografia num terreno pelos métodos tradicionais leva-se em torno de três semanas. Com o drone, um dia. Isso sem contar a precisão, afirma.

Apesar de abraçar timidamente a tencologia, o setor está atento à mudanças num futuro nem tão distante. Neste ano, junto a 32 empresas da área, Souza lançou a Rede Construção Digital. O objetivo do grupo é se reunir, através de seminários e encontros, para discutir as novas tecnologias digitais na construção civil.

— Surgiu de uma demanda, ao identificarmos que fabricantes, incorporadores e construtoras não estavam acompanhando a revolução digital na indústria brasileira — conta.

Entre as outras tecnologias que já funcionam no Brasil, ele cita o Building Information Modeling, que faz projetos 3D, permitindo projetos mais próximos do real; internet das coisas (IoT), que conecta dados; a realidade virtual, para vender o imóvel ao cliente; e a big data para armazenar dados.

Já em fase experimental no exterior, ele cita ainda o Blockchain, que é uma espécie de validação de contratos e a robótica em canteiros de obras. Sim, no futuro, parte dos edifícios serão construídos por robôs.

Tanto Fragozo quanto Roberto ressaltam que o drone é apenas uma ferramenta, ainda que muito útil.

— O drone coleta informações com mais precisão e agilidade e minimiza riscos. Mas, se não houver o engenheiro para interpretar tudo isso, não adianta nada — diz Souza.

Fonte: O Globo, Raphaela Ribas, 25/10

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