Portaria com simpatia: porteiros são reconhecidos pelo carisma e colaboração

Geralmente quem vive ou trabalha em condomínio costuma se deparar com aquele alguém que fica na linha de frente do prédio fiscalizando a entrada e saída das pessoas. Esse profissional é tão importante que já foi lembrado várias vezes na cultura pop, indo desde personagens icônicos até letras de música. Mas, entre “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite” e eventuais comentários sobre o tempo, alguns se destacam na multidão e acabam conquistando o coração dos moradores, frequentadores e síndicos. É o caso do Luiz Gonzaga, que tem no síndico do Edifício Ribeiro Moreira, José de Carvalho, um grande fã. E não é por causa do nome de artista. O porteiro, de 68 anos, trabalha no condomínio em Copacabana há 32 – o seu primeiro e único emprego à frente de uma portaria. Antes disso, Luiz trabalhava em uma empresa de manutenção de edifícios que prestava serviço para o prédio. Quando surgiu a oportunidade, ele trocou os pincéis e ferramentas pela portaria por considerar a função “mais sossegada”. Contudo, as habilidades fizeram o “pacote” ainda mais completo e, graças a isso, o porteiro faz diversos “bicos” pelo prédio. “Muitas vezes, eu não tenho nem conhecimento do problema porque ele já vai lá e conserta”, afirma José, que também revela que o porteiro chega a fazer as vezes de calceteiro. O síndico, aliás, rasga-se em elogios. Morador do Ribeiro Moreira desde que nasceu, chega a se questionar se gostaria de estar no cargo caso não contasse com a parceria de Luiz: “Para mim, ele é indispensável.” José acredita que o fato de o porteiro também ser morador do condomínio o motiva a aumentar o cuidado com o lugar e conta que, de alguma forma, ele está sempre fazendo alguma coisa pelo prédio. Luiz atende a todos em missões que vão desde ir à feira para alguém até levar um “senhorzinho” ao banco. “Não é simples competência no trabalho, ele extrapola”, avalia. Não à toa, diante do tema da reportagem, o síndico logo se empolgou em exprimir o quanto o porteiro é “gente boa”: “Acertadamente, serviria para ele essa colocação. É a personificação do Luiz!” O porteiro, por sua vez, encara tudo com a maior tranquilidade e não deixa tanta exaltação subir à cabeça, mas reconhece a boa relação com os moradores. “Eu não tenho dificuldade. Me dou bem com todo mundo”, afirma. Ele acredita que tem sido bem-sucedido graças à sua força de vontade: “Tenho interesse por tudo que eu faço.” Por isso também orgulha-se de nunca ter sido demitido na vida: “Tenho apenas três assinaturas na carteira (de trabalho).” E uma coisa assume, deixando a modéstia um pouco de lado. “Quando tiro férias, todo mundo fica louco”, diverte-se. Simpatia e carro emprestado Mas, quanto a ser solicitado, o que dizer de um porteiro que chega a emprestar seu carro para os moradores do condomínio onde trabalha? É sério! Antônio Carlos José da Silva comenta como se fosse a coisa mais banal do mundo: “Ih, pegam emprestado o tempo todo!” Não é de se estranhar que, ao ser questionado sobre qual é o segredo para ser tão querido, especula: “Acho que é ter todo mundo como se fosse uma família.” Há 35 anos trabalhando no Edifício da Praça, em Copacabana, o porteiro de 61 anos de idade acumula 42 primaveras de experiência na profissão. “É uma responsabilidade grande, mas tudo é um aprendizado”, diz. Orgulhoso do que faz, ele fala sobre a importância de estar atento a tudo que acontece no entorno do prédio e conta que já chegou a fazer curso de segurança condominial. Também já fez um para auxiliar moradores idosos. Mas, sobre esse último, ele garante saber mais do que foi ensinado. De qualquer maneira, Antônio preocupa-se mesmo em tratar todo mundo bem, “da criança ao idoso”. Por isso se gaba: “Os moradores dizem que não dá para saber se estou doente ou com raiva.” Tanto reconhecimento já o fez receber diversas propostas para trabalhar em outros edifícios, mas ele garante não querer trocar o Condomínio da Praça. O porteiro se recorda de um morador americano que afirmava que ele havia nascido para a profissão. “Ele dizia que tinha que ser porteiro mesmo. Se eu fosse médico, matava o paciente; se fosse advogado, não libertava o cliente; se fosse engenheiro, a construção cairia”, diverte-se. “Isso faz a pessoa ficar feliz, né?”, completa. Experiência e muita dedicação Já Severino de Paula Machado tem uma carreira um pouco mais recente em portarias (cerca de 16 anos), tendo ingressado na profissão após a sua aposentadoria. “Infelizmente, neste país, depois de uma certa idade, é difícil arrumar emprego. Além de uma boa oportunidade, foi uma distração, porque, ficando em casa, eu quase entrei em depressão”, explica. Contudo, as experiências anteriores colaboraram para que ele introduzisse melhorias no serviço. Depois de já ter trabalhado como auxiliar de almoxarifado, fiscal de caixa e rodoviário, ele começou a acumular conhecimento como porteiro trabalhando em uma clínica. Hoje, aos 68 anos, é o porteiro-chefe do Condomínio Residence Rodrigues Caldas, em Jacarepaguá, onde foi parar por indicação de um casal de moradores que frequentavam o edifício onde ele trabalhava anteriormente. Há oito anos no condomínio, ele explica com satisfação diversas ações de aprimoramento no controle de entrada de pessoas, mapeamento para entrega de documentos, entre outras medidas. “Procuro organizar as coisas para facilitar a minha vida e a dos meus colegas”, ressalta. Dedicado à segurança do condomínio, ele garante que está sempre ligado em tudo e que tem facilidade para guardar as informações. Então anota e guarda os nomes de entregadores, funcionários de pet shops, motoristas de transporte escolar, entre outros. Por isso, fez um curso sobre o tema. “Acho muito importante. Aprendemos coisas que às vezes passam despercebidas”, completa. Tanta preocupação já fez até com que o porteiro precisasse ter um pequeno embate com um morador quando ele não quis abaixar o vidro do veículo ao ingressar no condomínio, alegando que o carro possuía o adesivo de identificação. “Eu falei com ele: ‘Vamos supor que você

Espaços e serviços para animais em condomínios colaboram para a socialização e bem-estar

Viver com um pet dentro de um condomínio nem sempre é tarefa fácil. Cachorros, em especial, precisam de espaço para correr e gastar energia. Para colaborar com os moradores de quatro patas, alguns condomínios – em especial, os mais novos – já disponibilizam áreas de lazer específicas para os pets, além de serviços que facilitam a vida dos condôminos. Um deles é o serviço de dog walker – passeadores de cães, que levam a cachorrada para dar uma volta enquanto os donos estão ocupados. No Condomínio Park Square Residence, em Icaraí, Niterói, o serviço é oferecido no formato pay per use (pague para usar). Segundo a empresária Mariana Garcia, essa facilidade também ajuda a amenizar um pouco da culpa por deixar seu cachorro sozinho em casa a maior parte do dia. “Sei que ele preferia passear comigo, mas fico mais tranquila, pois sei que ele não ficará tanto tempo sozinho em casa”, conta. Na Barra da Tijuca, Terezinha Marques faz as vezes de tutora de animais durante a semana, iniciando os passeios às 7h e finalizando às 11h. Além de passeadora, também presta o serviço de pet sitter para condôminos do prédio onde mora e para os condomínios próximos ao seu. Quando os donos precisam viajar, ela cuida dos cães fazendo uma série de visitas à casa dos clientes. “O cão permanece no ambiente dele, onde tem o cheiro dos tutores e seus objetos pessoais, assim você não causa nenhum estresse nele”, explica. São pelo menos duas visitas diárias. Se o cachorro ainda é filhote, podem ser até quatro visitas, em que a profissional higieniza o local, troca a ração e a água, e leva o bicho para passear. Durante esses momentos, ela, inclusive, faz filmes e tira fotos para os tutores: “Faço até transmissões ao vivo para mostrar como eles estão no momento. Os donos também fazem filminhos para os cães. O interessante é que, quando eles ouvem a voz do dono, ficam procurando.” A convivência entre animal e dog walker muitas vezes extrapola o que poderia ser uma mera relação profissional. “É interessante como a gente vai conhecendo cada um deles. Às vezes, até com um olhar ele já mostra o que quer ou para onde deseja ir. Mesmo não sendo seu cão, existe uma interação tão grande que, com apenas um gesto, ele já entende o seu comando e obedece”, diz Terezinha. Mais do que um cercadinho Outro serviço que surge com mais frequência nas novas construções é o chamado pet place, um ambiente dentro do condomínio voltado exclusivamente para o lazer dos animais. Nesses espaços, os bichos podem passear, fazer exercícios e interagir. Há cerca de quatro anos, o Condomínio Rio 2, localizado na Barra da Tijuca, conta com uma área desse tipo voltada para os bichinhos de estimação. Com o tamanho aproximado de uma quadra e meia de tênis, o local foi batizado de “ParCão” e é dividido em duas áreas: uma toda coberta por grama e outra com piso. Como os bichos também sofrem com o calor carioca, uma mangueira foi instalada para quem quiser dar banho no cachorro, e há até uma piscina exclusiva para os peludos. Prédios mais novos passaram a oferecer espaços exclusivamente para o lazer dos animais Dona de cinco cães, a moradora Lucia Vieira conta que a construção do espaço não foi aceita de cara por todos os condôminos e foi preciso persistência para que o pet place fosse aprovado. “Muitos que moram próximo ao ‘ParCão’ reclamam dos latidos. Eu e duas moradoras lutamos muito, e o espaço foi concebido e aprimorado. No início, onde hoje é piso, era brita”, lembra. Embora a adesão não seja unânime, muita gente tem aprovado a iniciativa, até mesmo quem não tem bichos, como a administradora Viviane Aragão. “Antes tínhamos muitos problemas de animais que faziam as necessidades nas áreas comuns do condomínio, e isso causava grande transtorno para moradores e visitantes”, conta. O Rio 2 é um condomínio composto por 16 prédios e cerca de 16 mil moradores. Com o “ParCão”, Viviane conta que ficou mais fácil a relação entre os vizinhos nos momentos de lazer: “Nos feriados ou nos finais de semana, quem não viaja costuma descer para aproveitar as áreas comuns do condomínio, como a ciclovia e a pista para caminhada, e, antes da criação do espaço, ficavam muitos cachorros no caminho, o que atrapalhava quem queria correr, pedalar ou apenas passear.” Superadas as desavenças entre humanos, ainda são necessários alguns cuidados para manter o clima de paz entre a bicharada. Segundo o pintor industrial Victor dos Santos, tutor dos vira-latas Luck e Strep, ambos de 7 meses, é preciso que os condôminos respeitem o temperamento dos cães: “Existem cachorros mais calmos e outros mais agressivos, então tem que ficar atento para não ter briga. É importante entrar no espaço aos poucos, deixar que eles se cheirem para ver se não haverá atrito.” Mesmo em área exclusivas para cães, é preciso tomar alguns cuidados para evitar brigas Programação canina No Condomínio Cidade Jardim, na Barra da Tijuca, as conexões entre humanos e cachorros é tão grande que os vizinhos organizam até eventos como festas de aniversário dos cães e encontros de raças. “Tem dia em que há reunião só de shitzu; outro dia, só com spitz alemão… Parece uma exposição de cães, é a coisa mais linda! As minhas não participam, embora, por serem vira-latas, pudessem entrar em todas as reuniões”, brinca a aposentada Nilda Amora, dona de Preta, de 15 anos, e Xuca, de 3. No condomínio, a bicharada não conta apenas com um, mas com três espaços de lazer próprios. Manter o local limpo também é uma preocupação dos frequentadores. Em cada portaria e também nos pet places, ficam disponíveis sacolinhas para que os donos recolham os cocôs. “Quem perdeu ou esqueceu não tem desculpa de não limpar”, assinala Nilda. No condomínio, a regra é a mesma da rua: sujou, recolheu Segundo o empresário Arthur Araújo, tutor do buldogue Sig, muitos moradores decidiram adotar seus primeiros cães