O desafio da mobilidade urbana

Se as grandes cidades fossem corações que alimentam a economia global, as estradas, linhas de metrô e outras vias de transporte de massa seriam as artérias de interligação de todo o sistema. É fato que a capacidade de deslocamento da população é um fator determinante para a prosperidade econômica, e que este trajeto deve ser cada vez mais eficiente, sustentável e previsível. Embora este seja um objetivo comum, os gestores das principais metrópoles do planeta ainda encontram obstáculos para tornar as vias mais fluidas e, principalmente, com menores índices de poluição.

Esse desafio também é grande no Brasil. Ao menos é o que aponta uma pesquisa elaborada pelo Observatório do Clima, divulgada no fim do ano passado, que indica que o setor de transporte foi o segundo que mais emitiu dióxido de carbono (CO2) em 2017, o que representa 11% do total bruto de 1.927 bilhões de toneladas, ficando atrás apenas do setor agropecuário. Outro relatório, desta vez estabelecido pela ONU Meio Ambiente, mostra que as emissões globais do composto aumentaram novamente no mesmo ano, rompendo um hiato de três anos.

É clara a contradição: por um lado, há a necessidade de transportar milhões de pessoas todos os dias. Do outro, o custo efetivo da rapidez que a locomoção da população pode causar ao meio ambiente. Metrópoles brasileiras como Salvador, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro têm incentivado a multiplicidade de modais para diminuir o impacto da sua emissão de carbono. E, nesse sentido, a mescla entre transporte sobre trilhos e compartilhamento de meios de locomoção, como automóveis, bicicletas e patinetes, tem se mostrado cada vez mais popular. Segundo dados da consultoria Frost & Sullivan, estima-se que mais de sete milhões de pessoas usam algum tipo de compartilhamento em todo o mundo. O estudo prevê que até 2025, esse número suba para 25 milhões.

Segundo diversos levantamentos, na capital paulista, a instalação de bicicletários e ciclovias, aliado a serviços de compartilhamento, proporciona aumentos anuais de quase 20% na adesão de novos ciclistas. Outro estudo, desta vez feito pela Fapesp, mostra que viver em áreas próximas às ciclovias e estações de trem ou metrô eleva 107% as chances de utilizar bicicletas para percorrer pequenas distâncias, entre 500 e 1.500 metros.

Salvador foi além, já que a cidade ganhou um imponente projeto de revitalização e hoje, a população conta com um grande parque linear verde integrado a 12 quilômetros de ciclovia e pista de caminhada na Avenida Paralela, uma das principais vias de ligação da capital baiana. O projeto paisagístico e urbanístico contemplou ainda a recuperação da fauna e das plantas aquáticas de duas lagoas artificiais, que funcionam como bolsões de retenção de águas pluviais. Tudo isso, incorporado ao recém-concluído projeto do Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas, que transporta mais de 370 mil pessoas por dia. Assim, promove-se, também, a intermodalidade, pois as pessoas podem integrar a bicicleta com o metrô, por exemplo.

Diante desta série de evidências e constatações, pode-se concluir que há sim, modelos para melhorar o tráfego nos grandes centros e que essas soluções também podem ter baixos índices de emissões. Essas alternativas passam, necessariamente, pelos serviços públicos de mobilidade urbana, como metrôs, trens de superfície e monotrilhos.

Desta forma, conseguimos promover a mobilidade sustentável fazendo com que a população adote uma alternativa de deslocamento diário mais inteligente e migre do transporte individual para o transporte público. Para que esse sistema continue funcionando e esses ‘corações’ continuem batendo saudáveis, é preciso melhorar a integração entre os modais e oferecer a população o melhor de cada transporte, eliminando a concorrência e estabelecendo um fluxo no qual cada veículo componha uma parte dessa jornada.

FONTE: Correio 24 Horas Online / Notícias

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