Mercado imobiliário do Rio vê sinais de retomada puxada por alto padrão

Amargando uma longa crise, o mercado imobiliário do Rio começa a esboçar uma reação. A estimativa do setor é fechar 2019 com R$ 3 bilhões em valor geral de vendas de lançamentos na capital. O montante está longe da média de R$ 10 bilhões registrada nos anos de boom do setor, de 2011 a 2013, mas corresponde ao dobro do total registrado em 2017, fundo do poço do mercado carioca. A melhora gradual é puxada pelo segmento de imóveis de alto padrão.

Bancos disputam crédito imobiliário

“No fim de 2018, vimos uma luzinha no fim do túnel. Agora já é um farol. Vemos uma retomada no segmento de imóveis com valor superior a R$ 1,5 milhão. É um público que tinha recursos ou parte dele, mas ainda não se sentia confiante para concretizar a compra do imóvel”, diz o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), Claudio Hermolin.

O alto padrão representa uma fatia de 20% do mercado imobiliário do Rio. O restante se divide entre imóveis de R$ 240 mil a R$ 1,5 milhão e os populares, como Minha Casa Minha Vida. A faixa mais afetada pela crise é a do meio, formada por compradores de classe média que dependem da retomada do desemprego e da estabilidade da renda para se comprometerem com um investimento mais robusto.

A expectativa é que esse público só comece a reagir no segundo semestre de 2020, já que depende da melhora da economia real. “Se você está desempregado e volta ao mercado formal, não vai fazer um investimento no mercado imobiliário logo de cara”, pondera Hermolin.

Depois de passar 2017 sem levar novos empreendimentos ao mercado, a Tegra Incorporadora (antiga Brookfield) voltou à cena em dezembro passado com o lançamento do Volp40, em Botafogo, bairro da zona sul do Rio. Metade das 69 unidades com preços a partir de R$ 1,6 milhão foi comercializada. “Como o mercado ficou de 2015 a 2018 com poucos lançamentos, há demanda reprimida em vários bairros”, diz o diretor-geral da Tegra no Rio, Alexandre Fonseca.

Em 2019 a Tegra já tem dois lançamentos. O primeiro em Barra Bonita, na zona oeste, onde enxerga demanda represada. Em um mês foram vendidos 40% dos imóveis, com preços a partir de R$ 560 mil. Agora, lança o Campo dos Afonsos Residencial Club. Com 198 unidades, fica numa região pouco cobiçada, mas que as pesquisas da Tegra indicam ter grande potencial de vendas.

Apostando no mercado imobiliário como alternativa de investimento em um cenário de juros historicamente baixos, o ex-executivo do mercado financeiro, Henrique Blecher, e os sócios da Galt Capital – gestora de grandes fortunas da família Klabin – criaram a Bait Incorporadora. Focada no mercado carioca, a empresa tem como estratégia comprar terrenos em áreas nobres da cidade e lançar projetos imobiliários de alto-padrão.

“A gente tem no nosso DNA investidores que estão órfãos da Selic (a taxa básica de juros) e estão buscando investir em ativos reais”, conta Blecher, que começa a receber contatos de fundos imobiliários de São Paulo interessados em voltar ao mercado carioca.

Apesar do recuo nos últimos anos, a cidade continua tendo o metro quadrado mais caro do País (R$ 9.364/m²), segundo o Índice FipeZap de agosto, seguido pela capital paulista (R$ 8.978/m²).

Compacto com serviços

Na esteira da aprovação do Novo Código de Obras do Rio, a Bait mira o mercado de imóveis compactos com serviços. Em vigor desde o início do ano, o código permitiu a construção de unidades com área mínima útil de 25 metros quadrados. A incorporadora acaba de lançar o Bossa 107, primeiro prédio de estúdios da zona sul do Rio, em Ipanema. O conceito inclui áreas compartilhadas e tecnologia integrada, como um aplicativo que faz o agendamento de serviços de limpeza, passeio de cachorro e lavanderia.

O modelo deve ser seguido no empreendimento que o grupo prepara para o último terreno vago na Avenida Atlântica, na praia de Copacabana, onde ficava um casarão conhecido no Rio como “casa de pedra”. A Bait já fez três lançamentos e tem ao menos um programado para 2020. A expectativa é atingir um valor geral de vendas de R$ 280 milhões no Rio até maio do ano que vem, além de acelerar a compra de novos terrenos.

Dados do Secovi Rio, sindicato que reúne empresas do setor de habitação, indicam um crescimento contínuo no número de imóveis negociados na capital fluminense desde 2017. De janeiro a agosto deste ano, a alta foi de 13%, com um total de 30,7 mil imóveis (entre lançamentos e imóveis antigos). O total de lançamentos no primeiro semestre foi o maior desde 2015, segundo a entidade. Ao todo, 10.489 imóveis foram lançados, contra 8.390 no mesmo período do ano anterior e apenas 4.514 nos primeiros seis meses de 2017. Em 2011, auge do setor, o Rio chegou a contabilizar 22 mil lançamentos de janeiro a junho.

“Não vamos voltar a viver um período como o de 2009 a 2014, mas finalmente começa a haver uma retomada da confiança. 2020 será melhor”, diz o vice-presidente do Secovi Rio, Leonardo Schneider. Ele menciona mudanças na legislação municipal e a queda dos juros básicos – impulsionando a diversificação de investimentos e reduzindo o custo do financiamento imobiliário – como fatores favoráveis ao setor.

Na Sergio Castro Imóveis, com 70 anos de atuação no mercado carioca, as consultas de vendas de imóveis residenciais tiveram alta de 70% em setembro na comparação com o mês anterior. O diretor-geral da empresa, Claudio Castro, destaca também o aumento do número de anúncios em classificados – pagos um a um, ao contrário da internet, onde se compra um espaço fixo. “A procura tem aumentado loucamente, os resultados paulatinamente e temos certeza de que os preços não vão cair mais porque atingimos a velocidade de venda normal”, afirma.

As análises dos especialistas sobre a situação do mercado imobiliário do Rio destaca sempre a grave crise econômica do Estado, hoje em regime de recuperação fiscal, após ser atingido em cheio por casos de corrupção e a derrocada do setor de óleo e gás em função da crise da Petrobrás e do cenário de preços mais baixos. Hermolin, da Ademi, acredita que a retomada dos leilões de petróleo, de investimentos das petroleiras, além da negociação de ativos da estatal no Rio como o Comperj, são sinais positivos para a economia e a geração de emprego e renda.

“Há uma melhora incipiente, que tem recaídas com a incerteza gerada por algumas falas de nossas autoridades, mas o motor está pegando no tranco”, diz Castro.

 

FONTE: O Estado de S. Paulo

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