‘A inovação pode acontecer em todos os lugares’

Das experiências com veículos autônomos em Cingapura à participação popular por meio de aplicativos em Boston, em diferentes partes do mundo há iniciativas criativas e bem-sucedidas de “cidades inteligentes”, que o arquiteto e engenheiro italiano Carlo Ratti prefere chamar de “cidades sensíveis” ou “cidades capazes de sentir”.

Diretor do Senseable City Lab (Laboratório de Cidades Sensíveis), do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Ratti é defensor da tese de que a coleta e análise de grande número de dados, princípio básico das cidades inteligentes, não basta. Deve ser associada à capacidade de diálogo entre moradores, poder público e outros agentes e, desta forma, resultar em melhorias na vida dos centros urbanos. O professor é também fundador do Carlo Ratti Associati, escritório com sede em Turim, onde o arquiteto nasceu há 47 anos, responsável por projetos sustentáveis ao redor do mundo.

Como o senhor definiria o conceito de cidade inteligente?

Deixe-me dizer que o nome cidade inteligente significa tudo e nada. Por esta razão, eu não gosto e prefiro o termo senseable city (cidade sensível), uma cidade que pode sentir – através de sensores, mas também através do diálogo e da participação do cidadão. Nunca acreditei que ferramentas técnicas pudessem representar um elemento do progresso urbano sozinho. Elas só podem se tornar assim se tiverem impacto positivo na vida das pessoas, permitindo, como escreveu Schumpeter (Joseph Schumpeter, economista e cientista político, pioneiro no estudo de inovações tecnológicas e desenvolvimento), realizar a inovação de duas formas complementares: fazer coisas novas, ou fazer coisas que já estão sendo feitas em um novo caminho. Fora dos rótulos, podemos enquadrar facilmente o que caracteriza uma cidade inteligente: a entrada da internet e das redes no espaço físico. É na dinâmica do que hoje chamamos de internet das coisas que podemos ler os desenvolvimentos futuros da cidade inteligente. São quase sempre ligados à coleta e interpretação de grandes quantidades de dados e à ideia de sentir, detectar a atuar. É assim que o ambiente ao nosso redor pode começar a responder em tempo real às nossas necessidades. Tudo isso nos permite encontrar novas soluções para problemas antigos, da mobilidade à eliminação de resíduos.

O senhor poderia citar iniciativas em diferentes cidades que ajudaram a melhorar a relação entre a cidade e os moradores com o meio ambiente?

Cingapura está trabalhando de maneira muito interessante em mobilidade. Copenhague, em sustentabilidade, Boston, em participação cidadã, e Milão, em novas formas de integração entre arquitetura e natureza. Mas também poderíamos mencionar outras cidades: Berlim, Tel Aviv, Paris … Hoje, a inovação pode realmente subir ao palco em todos os lugares, através da dinâmica do ‘leapfrogging ‘( conceito que denota um salto em direção ao desenvolvimento sustentável), mesmo nos países em desenvolvimento. Em outras palavras, não há apenas um modelo de desenvolvimento.

Em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde ainda há sérios problemas em áreas como transporte público e saneamento, como se pode adaptar à ideia de cidade inteligente?

A cidade inteligente e as tecnologias digitais visam a uma melhor qualidade de vida, da gestão de resíduos e água, à mobilidade, à energia, à saúde pública, à participação do cidadão e assim por diante. Devemos começar de uma determinada área de interesse. Acho que o Rio tem espaço para melhorar a mobilidade, entre outras coisas. Também usaria as redes para desencadear novas dinâmicas de participação urbana. Por fim, lembro-me de uma estatística que me surpreendeu, com relação ao desperdício e à perda de água no Rio. É possível fazer muita coisa, com sensores que podem identificar os canos quebrados e identificar as áreas de intervenção.

(Fonte: O Globo)

 

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